quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Mensagem de Paulo aos Colossenses - Parte II

            Inicio citando as maravilhosas palavras de Dallas Willard, que estão escritas no livro The Divine Conspiracy. Aliás, muito do que escrevo neste ensaio é influência de suas palavras e de outros grandes autores como Lewis, Tolkien, Spurgeon e Nietzsche e o impacto que elas provocaram em minha vida. Nada mais justo e oportuno que inserir suas palavras com forma de meditação e reflexão sobre o tema desta segunda mensagem.
            A minha esperança é conquistar uma nova audiência para Jesus, especialmente dentre aqueles que acreditam que já o compreendem. Nesse caso, bem francamente, a presumida familiaridade tem levado ao desconhecimento, o desconhecimento ao desdém e o desdém a uma profunda ignorância.3
            Willard fala sobre a importância da intimidade com Cristo. Mostra aonde a aparente familiaridade pode levar os “discípulos” de Cristo. Paulo fala aos colossenses também sobre esta importância. Palavras como continuar, permanecer, edificar e firmar dão a tônica desta segunda mensagem. Mesmo sem conhecê-los pessoalmente (2.1) ele os aconselha a se firmarem naquilo que eles receberam de Cristo (2.6,7).
            Já na época de Paulo, os grandes “descobridores e interpretadores” das leis e dos costumes já disparavam suas doutrinas.  Paulo convida a todos  a permanecerem firmes naquilo em que aprenderam. Filosofias fundamentadas em tradições humanas e em princípios mundanos, procuravam confudir a cabeça. Mas em Cristo, e só nele, é possível se encontrar a plenitude do conhecimento. E porque Paulo, falava sobre isso? Por que ele tinha consciência que nada daquilo (como o que existe hoje em dia) produziria alguma coisa de valor. Eles estavam sendo atacados por doutrinas, dogmas, leis, usos e costumes com a finalidade de “aprimorar” ou “completar” as palavras e o sacrifício de Jesus.
            Isso me entristece, mas o que vivemos hoje não é lá muito diferente. Muitos carregam fardos e cargas, travestidos de piedade e selado com os dizeres “vontade de Deus” sem necessidade alguma. As palavras de Jesus, são palavras de carregam um praticidade e uma clareza ímpar. Suas palavras e ações demonstram o que verdadeiramente é a vontade de Deus. A vontade, assim como o amor de Deus, não é algo condicional. Quantas vezes, Jesus requeriu algo ou alguma coisa de alguém? Jesus convidava as pessoas a repensarem suas ações e atos para consigo e para com o próximo. A grande decepção de Judas Iscariotes foi pensar que seu Mestre iria promover uma revolução exterior. Jesus convidou a seus discípulos a serem pensadores, descobridores e anunciantes do reino de Deus aqui na terra. Sua revolução se deu no campo das idéias. Era uma revolução de dentro para fora. Mostrou que apenas com o conhecimento de Deus e da verdade eles seriam livres. Paulo, ao escrever aos romanos (e a todos nós) fala sobre a importância do culto racional (que nada mais é do que o culto com o uso da mente, ou seja, um culto lógico, onde aja decência e ordem, baseado no conhecimento de Deus). Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor, (conselho dado pelo profeta Oséias)  Meu povo perece por falta de entendimento (constatação feita por Deus) nos mostram o qual é importante o uso da mente na busca pelo conhecimento de Deus.
            E por que a mente é tão importante? Porque ela é o coração do homem. E é ela que o inimigo procura envenenar com dúvidas, incertezas, medos, angústias e todos os frutos da carne. E com a mente cheia destas coisas, o homem produz pensamentos que geram morte. Jesus nos aconselha a orar e vigiar para não cair em tentação. Uma mente que não é voltada para o conhecimento de Cristo, facilmente é conduzida pelas emoções e sentimentos, que rapidamente levam o homem ao engano e ao erro. E o engano e a mentira são as armas mais eficazes do maligno. Através delas ele procura imitar as coisas de Deus, com intuito de iludir os cristãos.
            Porque em Cristo habita CORPORALMENTE toda a plenitude da divindade, e,  por vocês estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, VOCÊS receberam esta plenitude. (2.9,10). E que plenitude da divindade é esta? A plenitude dos sete espíritos de Deus, conforme Isaías 11.2 (O Espírito do SENHOR, o espírito da sabedoria, o espírito do entendimento, o espírito do conselho, o espírito de fortaleza, o espírito de conhecimento, o espírito do temor do SENHOR).
            Isaías, 700 a.C. proferiu as seguintes palavras: “ Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.4 Renovo é novidade, reinício. E para isso nós fomos chamados: para sermos uma nova criatura,  viver em novidade de vida, sermos uma nova geração!
            Nós fomos chamados das trevas para a maravilhosa luz de Cristo. E nele nos fomos circuncidados (2.11), sepultados e ressuscitados (2.12), vivificados e perdoados (2.13,14) e livres do legalismo baseado em mandamentos e doutrinas humanas (2.20-23).
            Infelizmente, muitos não valorizam e até mesmo diminuem o impacto da cruz de Cristo em suas vidas. Livre-arbítrio é bobagem. Disciplina é liberdade. Não se submeter a regras, não é o mesmo que desprezá-las. Lembre-se que fomos chamados das trevas para a luz. Muitos, embora estejam na luz, ainda estão acostumados a “facilidade” da escuridão. Na luz, sabemos onde pisamos e para onde estamos indo. Nas trevas, a única saída é apalpar. Liberdade não é viver à esmo.
            Muito pouca gente hoje acha Jesus uma pessoa interessante ou de importância vital para o curso da sua vida real. Ele não é em geral considerado uma personalidade da vida real que lida com questões da vida real, mas tido como alguém ligado a um plano etéreo distante daquele que precisamos enfrentar, e enfrentar agora; e, francamente, ele não é tido como uma pessoa de muita capacidade.
            Jesus é visto mecanicamente mais ou menos como uma figura mágica — um peão ou quem sabe um cavalo ou um bispo num xadrez religioso - que se enquadra somente nas categorias do dogma e da lei. Dogma é aquilo em que você tem de acreditar, quer acredite quer não. E lei é aquilo que você precisa fazer, quer seja bom para você quer não. Por outro lado, aquilo em que temos de acreditar agora, aquilo que temos de fazer agora é a vida real, prenhe de coisas e pessoas interessantes, assustadoras e importantes.
            Ora, na verdade Jesus e as suas palavras jamais pertenceram às categorias de dogma ou lei, e compreendê-los assim é simplesmente não compreendê-los. Pois ele e suas palavras são em essência subversivos em relação aos sistemas e aos modos de pensamento estabelecidos. Isso é evidente diante da maneira como eles entraram no mundo, diante das conseqüências iniciais que eles provocaram, do modo como estão preservados nos escritos do Novo Testamento e da maneira como persistem vivos no seu povo. Ele mesmo definiu as suas palavras como "espírito e... vida" (Jo 6:63). Invadem o nosso mundo "real" com uma realidade ainda mais real, o que explica por que os seres humanos de então e de agora têm de se proteger delas.
            O dogma e a lei - equivocadamente talvez, porém compreensivelmente — vieram a se cercar de um ar de arbitrariedade. Em função de como os nossos pensamentos nos chegaram através da história, para a maior parte das pessoas hoje dogma e lei significam simplesmente aquilo que Deus quis. Essa visão torna essas duas coisas importantes, e igualmente perigosas, e é conveniente que se reconheça isso. Mas também rompe qualquer ligação com o senso de como as coisas realmente são: com a verdade e a realidade. E a nossa "vida real" é a nossa verdade e a nossa realidade. É onde as coisas realmente acontecem, não num plano de suposições que só ameaçam dificultar a vida, ou quem sabe torná-la intolerável.
            A vida e as palavras que Jesus trouxe ao mundo vieram na forma de informações e realidade. Ele e os seus primeiros companheiros conquistaram o mundo antigo porque fizeram correr nele uma torrente de vida - da vida mais profunda -, juntamente com as melhores informações possíveis sobre as questões mais importantes. Eram questões com que a mente humana já vinha seriamente se debatendo sem muito sucesso havia um milênio ou mais. A mensagem original, portanto, não foi recebida como algo que as pessoas tinham de acreditar ou fazer, porque senão algo ruim - algo sem ligação essencial com a vida real - lhes aconteceria. As primeiras pessoas alcançadas por essa mensagem concluíam em geral que seria loucura desprezá-la. Esse foi o fundamento da sua conversão.
            O próprio Jesus era tido como alguém a admirar e respeitar, alguém que se tinha em mais alta conta, que se considerava uma pessoa de grande capacidade. A adoração dele incluía - e não, como hoje, excluía — essa idéia. Essa atitude naturalmente se transmitiu em designações e expressões do Novo Testamento, como "Príncipe da Vida", "Senhor da glória", "vida em abundância", "insondáveis riquezas de Cristo" e assim por diante. Hoje essas expressões estão esvaziadas da maior parte do seu conteúdo intelectual e prático.
            Muitas vezes não compreendemos Jesus e suas palavras como realidade e informações vitais sobre a vida. E isto explica por que hoje não ensinamos normalmente àqueles que professam fidelidade a ele como fazer aquilo que ele afirmou ser o melhor. Nós os exortamos a professar fidelidade a Jesus ou simplesmente esperamos que eles o façam; e os deixamos aí, dedicando a força que nos resta a "atraí-los" para isso ou aquilo.
            É verdade que é possível encontrar em círculos cristãos alguns estudiosos ou líderes que negam que devamos fazer discípulos ou aprendizes de Jesus e ensiná-los a fazer todas as coisas que Jesus falou. Há alguns aqui e ali, mas na melhor das hipóteses eles não são lá muito influentes. Porém, os ensinamentos de Jesus a respeito disso são, no entanto, absolutamente claros. Nós é que não fazemos o que ele disse. Não nos esforçamos seriamente por fazê-lo e aparentemente nem sabemos como fazê-lo. Basta você examinar com sinceridade as suas atividades oficiais para perceber isso. Dizer essas coisas me entristece, e eu não pretendo condenar ninguém. Mas essa é uma questão de extrema importância, e se não for bem compreendida, nada se poderá fazer a respeito.
            Portanto, nos vemos forçados a buscar uma explicação para esse estado de coisas. Como pode a obrigação ser tão clara e ao mesmo tempo ninguém tentar cumpri-la? O problema, podemos estar certos, reside bem lá no fundo das idéias que inadvertidamente regem os nossos pensamentos sobre quem somos, como cristãos e como seres humanos, e sobre a importância de Jesus para o nosso mundo e para a nossa vida.
            Na verdade, esse problema é muito mais profundo do que qualquer coisa que possa com razão nos fazer sentir culpados. Pois, sem dúvida nenhuma, não é uma questão de algo que fazemos ou deixamos de fazer. A questão é que não podemos deixar de pensar e agir assim, em função da nossa formação intelectual e espiritual. Portanto, qualquer mudança significativa só virá com a derrubada da fortaleza das idéias e conceitos que mecanicamente afastam Jesus, o "Príncipe da Vida", quando surgem questões que envolvem o controle concreto da nossa vida.
            Seja qual for a verdadeira explicação disso, a coisa mais notável do cristão contemporâneo é que ele simplesmente não tem a convicção de que compreender e acatar a clara doutrina de Cristo é de importância vital para a sua vida; sem essa convicção, ele logicamente não considera essa doutrina como algo essencial. Nós - incluindo as multidões que se distanciaram de qualquer associação formal com ele - ainda assim nos sentimos culpados em relação a esses ensinamentos, exibindo um riso nervoso e um olhar de quem se reconhece faltoso. Porém mais freqüentemente, acho eu, tal obediência é tida como inviável ou impossível. Isso em larga medida, porque só se pensa praticamente em obediência à lei - questão sobre a qual muito teremos a dizer adiante.
            Seja como for, mais do que qualquer outro fator, a irrelevância prática da efetiva obediência a Cristo explica o impacto enfraquecido do cristianismo no mundo de hoje, com a sua crescente tendência de enfatizar a ação política e social como meio principal de servir a Deus. Explica também a irrelevância prática da fé cristã para o desenvolvimento do caráter individual e para a sanidade e o bem-estar das pessoas em geral.5




Fonte: 
3 - Dallas Willard – The Divine Conspiracy – pg. 6
4- Isaías 11.1
5- Dallas Willard – The Divine Conspiracy – pg. 6-8

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