quinta-feira, 18 de março de 2010

A Mensagem de Paulo aos Colossenses - Última Parte

Iniciei esta reflexão com as palavras de Paulo destinada não apenas aos colossenses mas a todos os cidadãos da pátria celestial e remetendo várias vezes ao sermão da montanha proferido por Cristo e procurarei terminar fazendo o mesmo.

Paulo “encerra” sua carta aos colossenses com as seguintes palavras: “Dediquem-se à oração, estejam alertas e sejam agradecidos. [...] Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades. O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um”.
Nestes versos podemos extrair conselhos e destes podemos extrair lições para a vida:

Dediquem-se à oração, Estejam alertas e sejam agradecidos.
A oração não é mera repetição de palavras. É um pedido direcionado a Deus. É a declaração que precisamos de ajuda, que precisamos melhorar. A oração é uma unidade. É a união do pedido mais a ação. Peço ajuda de como fazer porque quero aprender a fazer. E a oração deve expressar também a nossa unidade. Unidade esta expressa na nossa relação para com Deus e também para com os homens. Não há possibilidade alguma de obtermos respostas as nossas orações, se não buscarmos esta unidade. Como novas criaturas, nós procuramos abandonar os hábitos do mundo. Procuramos expressar nosso amor a Deus, através do nosso relacionamento com o próximo, pois é impossível amar o criador e odiar a sua criação. É impossível admirar um cantor e odiar a sua música. João diz que “Aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem vê”. A estrada do perdão e da oração é a mesma. Perdoai e sereis perdoados. "Quando estiverdes orando, se tendes alguma cousa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas" (Mc 11:25). Quem não sabe dar, não sabe receber. Quem não aprendeu a doar de bom grado, nunca será agradecido quando recebe.
A petição tem por objetivo unir. Como disse Dallas Willard, quando peço, coloco-me ao lado. Ficamos juntos. A oração é também a forma de diálogo no meu relacionamento com Cristo. A oração nos une a Cristo e ao próximo. E esse relacionamento deve estar fundamento no respeito mútuo. Fazei aos outros o que desejas que façam a você. Como o próprio Willard disse: a definição mais apropriada de oração é simplesmente: "Conversar com Deus sobre o que estamos fazendo juntos".
Rapidamente, analisemos a oração do Pai Nosso, que Cristo nos ensinou, tendo por base estes três primeiros conselhos:

* Pai nosso que estás nos céus: A quem oramos? A quem clamamos? Àquele que está pronto a nos ouvir. Invocamos a uma pessoa específica: nosso Pai. Buscamos nos dirigir a ele através da nossa oração, do nosso jeito, da nossa forma. Pai, como Jesus costumava chamá-lo. Pastor, como Davi costumava a chamá-lo. Todo-Poderoso, como alguns o chamam. Não importa o título ou o pronome de tratamento, importa que o busquemos. De joelhos, prostado ou em pé. De olhos abertos, semi-abertos ou fechados. O jeito em si, não importa. Não existe uma forma ou posição canônica de ser invocar a Deus. Jesus, em pé, olhava para os céus e dizia Pai que estás nos céus porque tinha certeza que ele estava ali. Chamava o de Pai e colocava-se como Filho. Dizia: que estás nos céus, não pela distância e sim pela proximidade de nós, pois estamos mais próximos dos céus do que do Universo cósmico, onde muitos colocaram a Deus.

* Santificado seja o teu nome: O pedido que o nome de Deus seja respeitado ao máximo, de uma maneira única. A idéia expressa é que o nome de Deus receba a primazia da nossa atenção. Que as nossas atitudes e ações seja para que este nome possa ser glorificado. Que os outros enxerguem em nós o impacto que este nome causa em nossas vidas. Se somos filhos de Deus, temos a mesma assinatura do Pai. Que pai não se orgulha ao ver seu filho um vencedor? Que filho não se orgulha em chamar o pai de herói? Dar a importância devida ao Pai é dar a importância devida à família e a todos os que dela comungam.

* Venha o teu reino: Uma coisa puxa a outra. Aquele que tem o relacionamento em uma atmosfera mais íntima, que o chama de Pai, coloca-se na posição de filho e dá a primazia devida ao seu Pai, deseja que o reino do seu Pai manifeste-se a ele e a todos. Jesus diz que o reino do Pai não era um reino visível, porém muito real. Importa que os verdadeiros adoradores o adorem em espírito e em verdade. O desejo é que este reino de verdade, graça, amor e liberdade seja manifestado de uma forma plena na vida do ser humano. O reino do Pai que está nos céus é tão grande que o mundo não consegue suportá-lo mais ao menos tempo cabe dentro de cada um de nós.

*O pão nosso de cada dia nos dai hoje: O pão é o que precisamos para o nosso sustento natural. A ênfase porém está em nos daí hoje. O pão do dia, para o dia de hoje. Embora seja um Deus que era, é e sempre será, Deus está sempre presente e no presente. Muitos buscam o “passaporte” para o reino futuro de Deus. Nesta busca incessante tornaram-se em escravos do próprios prazeres e vontades e distanciam-se a passos largos do reino presente de Deus. Não extraíram lições do passado, não vivem o presente e poderão se decepcionar seriamente no futuro. Jesus nos alertou sobre a preocupação com as coisas futuras e também sobre todo aquele que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus. Hoje o que é de hoje, pois temos conosco aquele que provê também o amanhã.

*Perdoa as nossas ofensas: Perdão. Misericórdia. O clamor daqueles que consciente dos seus erros, buscam não perderem o relacionamento com o Pai. Ainda bem que ele mesmo confirmou que as suas misericórdias é a causa de nós não sermos consumidos. E não apenas elas, mas também o seu amor e sua graça derramada por nós através de Jesus evidenciam isto. Corações contritos, Deus não despreza. A sua palavra é que ele habita, ou seja, está perto e junto com os tais. Como um pai (e o que ele deseja ser para todos nós) se compadece dos filhos, assim o Senhor se compadece de nós. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos recompensa de acordo com as nossas iniqüidades. O Senhor é compassivo, longânimo e cheio de misericórdia. Não é possível experimentarmos a misericórdia de Deus e sermos duros com o nosso próximo. Os que assim o fazem não entendem e não praticam o perdão e portanto não podem fazer esta oração, porque a mesma diz: Perdoa as nossas falhas, assim como nós perdoamos os que falham conosco.

* E não nos deixes cair em tentação: Escapar da tentação que o pecado proporciona. Além disto, esta declaração mostra a Deus a nossa incapacidade de lutar contra isso sozinho. E estar consciente disto é muito importante. Devemos pedir a Deus que nos livre do mal, que nos proporcione escape das tentações. Coisas ruins acontecem e por vezes abalam nossa fé. Confiar em Deus, entregar as nossas ansiedades e solicitudes é o que devemos fazer. Lançar a rede e encher o barco de peixes depois de ter tentado a noite inteira. Caminhar por sob as águas. Vencer os gigantes. Tudo fica mais fácil quando estamos juntos com o Senhor. A confiança excessiva em nossas capacidades nos cega e não nos permite ir mais adiante. Se fizermos esta oração de forma consciente e a tornamos viva em nós, perceberemos que a todo instante Deus nos afasta da tentação e nos livra do mal. A todo instante.

domingo, 14 de março de 2010

A Mensagem de Paulo aos Colossenses - Parte IV

A quarta mensagem de Paulo é destinada a seis classes de pessoas: Mulheres (3.18), Maridos (3.19), Filhos (3.20); Pais (3.21), Servos (3.22) e Senhores (4.1). Mas a mensagem a todos eles é uma só: Suportem, perdoem, revistam-se de amor e vivam em paz uns com os outros.

Uma pergunta: Quanto Jesus se importa com a relação que eu tenho com meus semelhantes? Muito mais do que imaginamos. No discurso da Montanha, conhecido como o Sermão da Montanha, Jesus torna claro o cumprimento da lei (que era baseada no olho por olho, dente por dente) pela imensa graça (amarás o teu próximo como a ti mesmo). Nos capítulos 5 e 7 do evangelho segundo Mateus, Cristo nos transmite ensinamentos práticos e atemporais.

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Estas palavras demonstram a preocupação de Cristo em esclarecer o que estava anunciando. Ele mostrou ao homem o “reino” que ele está inserido, mas em contrapartida expôs o reino em que ele estava anunciando. Ele convidou (e ainda hoje convida) a todos os que ouvem as suas palavras a deixar de lado o hábito da aparência religiosa, da ira, da vingança, da luxúria sexual, das ansiedades e preocupações.

Dallas Willard, cita muita bem a seqüência proposta por Cristo no sermão da montanha: afastar a ira, o desprezo, a luxúria obsessiva, a manipulação e o revide, e depois abandonar a dependência da reputação humana e das riquezas materiais. Cristo nos convida a tomarmos seu fardo, a seguir o caminho (que é o próprio Cristo), a exercermos nossa fé, mas antes de tudo isso, construírmos nossa “casa” na rocha.

Hoje, a falibidade das relações humanas acentuam ainda mais o ensino de Cristo. São relações construídas nas areias da vida e do tempo. São “casas” que não suportam o rigor dos ventos e das tempestades. Começar a rachar e enfraquecer com a simples maresia e acaba por desmoronarem diante as tempestades.

Aquele que ouve e pratica estas minhas palavras... ilustra fielmente a atitude que devemos ter. Estas atitudes não devem ser condicionais, mas espontâneas. As atitudes que vão na contramão do que é demonstrado pelo mundo atual são os “frutos” da árvore que Jesus menciona em sua preleção. Árvore boa, bom fruto. A demonstração da dimensão do amor de Cristo pelos nossos semelhantes possui sua “vida” ligada à esfera do fazer. Jesus nos diz que isto é uma “pista de mão dupla”: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”.

Se queremos realmente ter paz uns com os outros e amar o nosso próximo, precisamos abandonar um hábito que está profundamente entrelaçado à natureza humana: o hábito de culpar, julgar e condenar. Embora muito achem que a condenação “endireita o indíviduo”, os fatos demonstram que não. A diferença entre correção e condenação é do tamanho do universo. Corrigir é mostrar o caminho. É orientar aquele que cometeu o erro, levando o de volta ao caminho da graça, procurando firmá-lo no mesmo. Corrigir é andar junto. Paulo escreveu as seguintes palavras aos gálatas: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o, com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo."

Já quando condenamos ou culpamos alguém, o sentenciamos à exclusão e ao abandono. Jesus ensinou aos seus discípulos: Sua missão é jogar a rede, o mais cuido eu. Mostrou na teoria e na prática. Não deixou em nenhum momento que preferências doutrinárias ou partidárias, status social, vida pública, atos praticados anteriormente, excluíssem as pessoas de ouvirem e serem alcançadas pelo evangelho do reino. Assim foi com Mateus, Zaqueu, a mulher samaritana, Nicodemos, a mulher Cananéia, Jairo, a mulher Cananéia, o cego de Jericó e tantos outros. Jesus ensinou que devemos eliminar estes hábitos da nossa vida, não apenas para que possamos receber algo em troca de Deus, mas para que possamos acima de tudo nos tornamos mais felizes. Eliminar a condenação e ajudar: “Tire primeiramente a trave do teu olho...”

Em contrapartida, não julgar não significa não discernir. Discernir é fazer constatações em cima do que se vê. Um juiz de qualquer esporte usa pouco o julgamento e muito o discernimento. Ele diz pela sua experiência e em cima do que vê se foi ponto, gol ou não. É claro que ele também comete erros, mas a sua posição não é a do que mais sabe mas daquele que irá fazer a mediação entre as partes. Discernir é também mediar. Se não fizermos o uso do discernimento, acabamos por atirar pérolas aos porcos. Coisas boas se tornam más e ainda por cima letais. Aquilo que um dia serviu para construir, acaba virando um objeto de destruição. Acabamos por “empurrar as coisas goela abaixo”. Ouvimos e não entendemos. “Sabemos” e não praticamos.

Mulheres sujeitem-se (3.18), não está ligado a obediência cega, mas ao fato de caminharem juntos. Agora os dois são uma só carne, os sonhos e projetos, os passos durante a caminhada devem ser feitos juntos, visando o bem comum e a felicidade do casal. E o mesmo vale para os maridos que devem amar sua esposa e não a tratar com amargura (3.19). E Deus inspira o apóstolo a escrever em uma outra carta algo ainda mais sublime: “Maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a igreja e a SI MESMO SE ENTREGOU POR ELA”.

Filhos, obedeçam a seus pais (3.20) e Pais não irritem seus filhos (3.21). Quantos filhos não honram seus pais e não os respeitam? Muitos. Em sua esmagadora maioria, a relação entre pais e filhos virou mero “negócio” ou “tradição familiar”. Relações que são verdadeiros objetos de cristais: encantadores e belos por fora, mas que possuem uma fragilidade gigantesca, que ao menor descuido vira apenas cacos e lembranças do que se foi um dia. Pais que tratam seus filhos como “acidentes da natureza” e que não perdem a chance de menosprezá-los, de compará-los com os filhos dos outros. Pais que proferem palavras de maldição sobre a vida dos filhos tais como: burro, idiota, imprestável e tantos outros adjetivos pejorativos. Filhos que tratam os pais como estorvo e que usam os mesmos apenas como agente de realização de desejos. Filhos que “sugam” seus pais, mas que tem vergonha dos mesmos por causa de algum defeito físico ou por que lhes falta escolaridade. Filhos que abandonam pais em asilos e hospitais. Pais que abandonam filhos nas ruas e nos latões de lixo. Relações edificadas na areia.

O que você quer ser quando crescer? Quero ser igual ao meu pai, ou igual a minha mãe. Respostas comuns há uns anos atrás. Hoje, o que mais se ouve é: Quero ser tudo o que o meu pai ou mãe não foi para mim. É triste e doloroso ouvir isto, mas é a triste manifestação dos frutos de muitas “árvores familiares”. Torno a dizer: Árvore boa, bom fruto. Você poderá questionar que há outros fatores internos e externos que influenciam as pessoas. Concordo com você. Mas também digo que, se os fatores externos e internos ruins nos influenciam, porque então não nos deixarmos influenciar pelos fatores positivos?